Com uma dor no estômago que eu nunca senti antes e uma música velha na cabeça, que parece de um rádio antigo, ouvida em alto som, minha cabeça está tentando entender uma sensação que há muito tempo havia sido esquecida --diria que há, pelo menos, cinco anos. Engraçado, basta uma mera retomada de contato para esse sentimento, aparentemente, gostoso e benigno, mas que foi muito sofrido, dar sinal de vida.
Neste momento, minha confusão não é trágica, tampouco sôfrega. Acho que a melhor forma de descrevê-la é buscar semelhança na sensação que temos de volúpia, ainda que cause estranheza e arrepio, quando colocamos um picolé recém-tirado do congelador na boca.
Estou ansioso para ver até onde eu consigo chegar com essa, digamos, empreitada.
Ontem de manhã falando sozinho no chuveiro (sim, eu canto e falo sozinho tomando banho de manhã antes de ir trabalhar), tive um breve momento de elucidação, que é o seguinte: minha vida em Brasília é bem bacana, tenho amigos, parceiros de cerveja, rock (não necessariamente o rock que eu goste), putaria e futebol, além da minha vida profissional ser altamente enaltecedora, porém devido a fatores conjunturais passei a projetar toda minha diversão em São Paulo e todo o fardo do trabalho em Brasília.
Categorizar minha vida entre duas cidades distantes mil quilômetros entre si, só pode ter fim trágico. Eu passaria a ojerizar a vida social da capital federal ao mesmo tempo em que não conseguiria vislumbrar um desponte profissional em SP. Complexo da mesma forma que o caminho inverso também é verdadeiro. Mas como o poeta já dizia que a realidade tem todas as abstrações e as abstrações não têm nada de realidade, acho que as coisas em algum momento vão fazer sentido.
Para resumir: apesar de minha cabeça estar confusa e dolorida, estou curtindo esse momento de, digamos, várias emoções simultâneas.
O rock não morreu e sempre que há música, há um lugar para ir, não é?
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