5.30.2004

Cena sete
César e Pedro caminham em lados opostos da mesma rua.

César: Pedro? Pedro?
(Pedro está longe e finge que não ouve)
Pedro: Caralho, esse idiota está aqui, será que eu consigo fingir que não o vejo?
César: Será que ele ta me ouvindo. Ae Pedrão? Pedrão?
Pedro: Pqp. É melhor eu ir falar com ele antes que ele comece a dar um escândalo e fique muito chato.
César: Pedro, Pedro? Aqui do outro lado
Pedro: Opa, e aí meu caro, como vai?
César: Pôxa, vou ótimo. Bom te encontrar.
Pedro: Pois é. Cara, gostaria de continuar a conversar, mas estou super atrasado e preciso ir.
César: Ah, beleza. Até mais, então. Mas e aí, a Júlia endoidou, né cara?
Pedro: Como é que é?
César: Cara, eu te entendo. A mulherada de hoje está super liberal.
Pedro: César, do que você está falando?
César: De seu impasse com a Júlia
Pedro: Não temos nenhum impasse... Tá louco? De onde você tirou essa história?
César: Eu inventei. Presta atenção, Pedro, eu namoro a melhor amiga da Júlia, e sei de tudo o que se passa na vida das duas?
Pedro: **Infelizmente**
César: Não entendi.
Pedro: Instruções Veementes.
César: O que é isso?
Pedro: É um código militar que eu estou aprendendo, é super interessante.
César: Nossa, você precisa me ensinar algum desses.
Pedro: Qualquer dia eu te ensino um dos bons.
César: Hmmmm. Enfim, mas você não percebe que eu sei de tudo o que passa na vida dela.
Pedro: Gostoso!
César: O que?
Pedro: Meu sorvete de acerola.
César: Dá um teco?
Pedro: Não. Eu e a Júlia estamos com um probleminha.
César: Vai dá de migué? Probleminha?! Você está sendo modesto. Pelo o que eu saiba a Júlia endoidou.
Pedro: Você não faz idéia do que está falando!
César: Você não faz idéia do que se passa na cabeça da Júlia.
Pedro: E você?
César: O que?
Pedro: Sabe?
César: Sabe do que?
Pedro: O que está rolando na merda da cabeça da Júlia?
César: Não. Não sou eu o namorado dela.
Pedro: Então por que você começou com esse papo? Sinceramente, você acha que só porque eu sou namorado da Júlia tenho de saber os pormenores da vida dela?
César: Tem.
Pedro: Ah cara, vai se foder.
(silêncio estranho)
César: Você está indo para onde?
Pedro: Se você estiver indo, e eu espero que sim, tomar no cu, não vou te acompanhar.
César: Babaca. Olha, eu acho que a Júlia está dando para outro cara.
Pedro: Como é que é?
César: É, meu irmão, quando a mulherada começa a ficar estranha é porque ela está tendo um caso com um cara, especialmente quando ela fica estranha na frente de nós, namorados. E quando elas estão muito estranhas, mas muito estranhas mesmo, é porque elas estão lambendo carpete?
Pedro: Ã?
César: É, meu irmão, lambendo carpete, comendo pastel de pêlo, passando nariz no sovaco das pernas. Lambendo boceta.
Pedro: César, cala a boca. Você fala essas coisas para a Clara?
César: Desculpa, eu me empolgo. Eu sei que o problema é de vocês e eu estou me metendo, desculpa.
Pedro: Esquece, cara. O problema é que eu estou tendo um treco com a Júlia que eu não sei explicar, tampouco sei de onde veio. E isso é horrível. Fico extremamente indefeso, não sei como agir, não sei se devo falar com ela, ligar, tentar alguma coisa.
César: Eu acho que se ela for demais de importante para você, acho que você deveria correr atrás e fazer tudo o que ela quer. Eu vou dar uma passadinha na casa da Carla, vamos?
Pedro: Pode ser. A Clara é uma pessoa super gente fina. Gosto bastante dela.
César: Cara, posso confessar uma coisa.
Pedro: Acho que já te confessei coisa demais, está na sua vez.
César: Eu tenho um baita ciúmes de você e da Clara.
Pedro: Não sei porquê. A gente saía e só. Hoje eu estou com a Júlia e gosto pra caralho dela.
César: Mas, às vezes eu fico super inseguro. Nunca sei se algum dia vou conseguir ter a aproximação, intimidade que vocês dois têm.
Pedro: Besteira cara, ela gosta pra caralho de você.
César: Ela ou a mãe dela?
(Os dois permanecem num breve momento de silêncio)
César: Sabe o que eu gosto da Carla. Seu jeito de me tratar, ela é muito carinhosa e preocupada. Parece, parece uma atendente de telemarketing super interessada em você.
Pedro: Ela é muito meiga mesmo.
César: Sabe o que eu espero de uma menina? Que quando eu tocar o interfone da casa dela, ela atenda e só de ouvir a minha voz, por um só segundo, ela sinta-se a mulher mais sortuda do mundo e esqueça todos seus problemas. Eu espero que só de ouvir a minha voz, ela possa sorrir sem sentido, ser instantânea na vontade de me ver. (Toca o interfone). Que quando ela me vir pela centésima octogésima terceira vez, ela sinta aquele calafrio que sentiu quando me beijou pela primeira vez. Oi Carla, é o César, eu estou com o Pedro. Podemos subir?
Carla: Subam.
César: Acho que um dia eu vou me casar com ela.
Pedro: Eu sou mais simples. Posso até ser machista. Que a Júlia não me ouça, mas eu vou ter certeza de que estou com a mulher da minha vida, quando eu estiver sentado na sala e ela, sem eu pedir, me trouxer uma lata de cerveja para beber. Não pelo fato de isso ser uma demonstração de subserviência, mas a prova régia de que eu e ela somos um só, que ambos conhecemos os desejos e vontades de cada um.
César: Eu não gosto de cerveja.
Carla atende a porta
César: Oi, meu bem. Estava com saudades.
Carla: Oi Pedro, como está?
Pedro: Vou indo. Encontrei o César na rua.
Carla: Que legal. Meninos coloquem suas bundas no sofá, que eu já volto.
Pedro: Cara, a Carla é muito boa de vida. Olha só essa TV com 135 canais. Do caralho. Tem até uns canal pornô do pai dela.
Carla volta com duas cervejas na mão;
Carla: Trouxe uma gelada para você.