11.05.2004

Revolucionários


Subcomandante Marcos, líder e um dos principais guerrilheiros do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

O EZLN apareceu para o mundo em 1o de janeiro de 1994, dia em que entrou em vigor o Tratado de Livre Comércio do Atlântico Norte (Nafta). O objetivo era denunciar o baixo desenvolvimento social do povo pobre mexicano e mostrar que as comunidades indígenas do estado sulista de Chiapas tinham demandas e não poderiam ser esquecidas pelo recém-inaugurado estado neoliberal.
O movimento começou com a ocupação das cidades de San Cristóbal de las Casas, Las Margaritas e Ocosingo, invasão de grandes propriedades, sequestro de fazendeiros e ataques a instituições públicas. A notícia espalhou-se rápido e o movimento aproveitou para difundir suas idéias através de diversos comunicados.
Em sua primeira proclamação, o EZLN declarou "guerra ao Exército federal monopolizado pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI, que ficou 70 anos no poder até a vitória de Vicente Fox em 2000) e encabeçado pelo Executivo federal que hoje tem como chefe máximo e ilegítimo Carlos Salinas de Gortari (presidente de 1988 a 1994)".
O EZLN apresentou-se como um movimento nascido do resultado de "500 anos de lutas" e exigiu "trabalho, terra, teto, alimentação, saúde, educação, independência, liberdade, democracia, justiça e paz" para todos os mexicanos, indígenas ou não.
Subcomandante Marcos é uma figura desconhecida, não mostra sua face, apenas seu cachimbo e a tradicional jaqueta camuflada com a foto de Emiliano Zapata, líder da Revolução Mexicana no começo do século XX.

Irmãos e Irmãs,

No mundo inteiro há em disputa dois projetos de globalização. O que está acima, que globaliza o conformismo, o cinismo, a estupidez, a guerra, a destruição, a morte, o esquecimento. E o que está abaixo, que globaliza a rebeldia, a esperança, a criatividade, a inteligência, a imaginação, a vida, a memória, a construção de um mundo onde caibam todos os mundos. Um mundo com...

Democracia!
Liberdade!
Justiça!

Das montanhas do sudeste mexicano, pelo Comitê Clandestino Revolucionário Indígena -Comando Geral Do Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Subcomandante insurgente Marcos

México, Continente Americano, Planeta Terra,

Setembro de 2003

Esta é uma carta do Subcomandante que abre meu livro reportagem "A face em crise da globalização: ativismo pós-crise financeira da Ásia", resultado do trabalho de conclusão de curso de jornalismo da PUC-SP.

11.02.2004

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Essa é uma fotografia do cubano Alberto Korda chamada El Quijote de la farola tirada em 1959.
Korda é o mesmo fotógrafo que registrou a famosa pose de Che Guevara em 1960, que estampa camisetas, bandeiras, discos, botons, pôsteres. Apesar de ser uma das fotografias mais reproduzidas em todo o mundo, Korda nunca ganhou um centavo por ela.
A fotografia só foi divulgada sete anos depois, em 1967, quando Che foi assassinado na Bolívia. O cubano a repassou para um jornalista italiano que rapidamente a publicou em um cartaz na Itália.
Até Andy Warhol usou a figura capturada do revolucionário argentino para fazer sua arte pop. Ou seja, muitas pessoas ganharam dinheiro às custas da arte de Korda. Num mundo em que a usura e o lucro extrapolam os direitos de vida dos homens, não se pode estranhar tal prática.
Mas até mesmo as empreitadas descabidas do capitalismo têm seu limite, em 2000 após a Vodka Smirnoff estampar em uma de suas propagandas a famosa foto do guerrilheiro heróico, Korda processou a companhia e recebeu seu primeiro royaltie: 50 mil dólares. Ele morreu logo depois em maio de 2001.

Somos todos culpados por nossa ignorância.

10.31.2004

Fluta como borboleta, ataca como abelha

Acabei de assistir ao documentário "Quando éramos reis" sobre a luta do George Foreman contra o Muhammad Ali no Zaire em 30 de outubro de 1974, promovido por Don King, com custo de 10 milhões de dólares patrocinado pelos cofres públicos do Zaire, numa empreitada megalomaníaca do governo do ditador Mobuto. Mas vou deixar os comentários políticos de lado.
Independentemente da figura do vendedor de churrasqueira elétrica, gosto do George Foreman, ele é um boxeador espetacular. Conheço bem mais sua biografia que a de Ali, sobretudo porque ele parou efetivamente de lutar em 1997. Ali deixou as luvas de lado em 1981 depois de perder um confronto para Trevor Berbick por nocaute.
A história de lutas de Foreman inclui além de uma derrota fatiguante a Evander Holyfield uma disputa contra Adílson Rodrigues Maguila em 1990, que ousou desafiar o campeão e foi derrubado no 2o assalto, num evento em Las Vegas.
Apesar de tudo isso, a biografia de Muhammad Ali extrapola os limites do quadrado do ringue. Ele se recusou a lutar no Vietnã, foi preso, converteu-se ao islamismo e solidificou-se como um ativista político do nível de seu mentor Malcom X. O próprio George Foreman classifica Ali como um deus, um boxeador que não colocou os pés sobre a lona de um ringue porque flutuou sobre o palco da luta.
Desculpa caro Foreman, mas ALI, BOUMA YE!!!