10.18.2004

O consumo pela prosperidade

Os entusiastas da globalização corporativa, o mais recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendem que ela é necessária porque romperia os obstáculos ao comércio e à comunicação, reduziria a pobreza, a fome, aceleraria o acesso à riqueza, ou seja, traria prosperidade aos povos.
Na prática, a globalização impôs novas barreiras que ampliaram as distâncias entre ricos e pobres, entre elas o analfabetismo tecnológico e a exclusão digital. Antes da explosão do liberalismo de mercado, a inclusão social ocorria nos espaços públicos, como escolas, centros de aprendizado, etc, a digital não diferencia ricos e pobres. Os anos 1990 foram responsáveis por um crescimento desenfreado do consumo pela vida, e a inclusão passou a ser vendida através da associação entre uma marca e um determinado status social e concebida pelo acesso à rede de comunicação e informação, a Internet.
Consolidou-se, então, o imobilismo da sociedade, ou seja, não basta ter recursos, o importante é ter marcas e explorar o virtualismo da vida. O padrão de consumo extrapolou os limites e se sobrepôs ao valor humano. Os direitos de um consumidor são inalienáveis, permanentes e intransferíveis, enquanto o direito pela vida é objeto de polêmica dentro da sociedade.
Exemplo: a Constituição prevê que as propriedades de terras devem cumprir sua função social --respeito ao meio-ambiente, aos direitos trabalhistas--, caso contrário o governo as desapropriaria e as destinaria à reforma Agrária. Na prática, grupos com forte poder político conseguem burlar a lei, enquanto, organizações de sem-terra, com pouca representação no poder central, não conseguem acesso ao seu direito constitucional.
Dessa forma, o padrão de consumo a partir dos anos 1990 solidificou-se através da máxima: "a vida precisa de subterfúgios para se manter, do contrário, é apenas sobrevida".
A gigante dos petróleos Exxon Mobil, por exemplo, usa seu forte poder de lobby para interferir na legislação européia, que tenta proibir o uso de PVC em brinquedos de crianças. O interesse da Exxon explica-se no mercado de petróleo: se a nova lei européia passasse, a demanda por produtos derivados da commodity cairia, a receita potencial da empresa encolheria, consequentemente seus lucros. Para evitar essa sequência de fatos, no entanto, a empresa dispensaria os funcionários "descartáveis". Num mundo em que o poder do Estado é inversamente proporcional à força das corporações, o argumento de crescimento do desemprego sensibiliza qualquer parlamentar, seja ele de qual espectro político for.
O início do século 21 consolidou a tendência consumista. Por isso, exalta-se a marca e a imagem, enquanto cobra-se direitos por ambos. O convívio social e o povo foram destruídos, o homem desconstruído como uma máquina de desejos consumistas. Os direitos não são pela vida, mas pelo impulso das compras. Absurdo é explorar o consumidor, não o ser humano.
Vender um produto mal feito é crime, o abuso aos direitos humanos é polêmico. Atualmente a legislação tem peso maior para um consumidor do que para um preso que foi espancado e torturado sem razão.
Mirando nessa ampliação do consumo, a publicidade tomou conta de todos os espaços possíveis, desde escolas até paredes de banheiro. O que vale é a exploração descabida da publicidade.
"Quando a exploração do espaço chegar a níveis absurdos, serão as corporações que nomearão tudo. Estaremos diante da Esfera Estelar IBM, da Galáxia Phillip Morris e do Planeta Starbucks", sentencia um trecho do filme Clube da Luta.

Trilha sonora: When rethoric dies, Boy Sets Fire

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