6.12.2007

The Mix Up: A mistura da continuidade

O novo disco dos Beastie Boys a ser lançado em 26 de junho, “The Mix Up”, com a promessa de inovação, combina surpreendente com o “déjà vu”.

O álbum começa com conversas quase inaudíveis entre Mike D, Adrock, o percursionista Alfredo Ortiz e alguém chamado Tom. Mike D solicita o início da gravação. Adrock pede a Ortiz estabelecer o tempo da música, que responde: “I feel naked, brother”.

A primeira faixa “B for my Name” não tem nada de novo. E muito por conta do teclado de MoneyMark. Inspirada no acid jazz de Jimmy Smith, ela sobre, até a exaustão, da mesmice. Se Mark Nishita cansa a igualdade na primeira, na segunda “14th St. Break” começa a aparecer alguma inovação. A guitarra de Adrock tem uma frase suave e “catchy” lembrando, talvez, James Brown em início de carreira.

O cool funk entra solto em “Suco de Tangerina”, homenagem ao Brasil, “Electric Worm”, “Freak Hijiki” e “The Melee". A primeira é uma música alegre para levantar o espírito de um final de tarde de sexta-feira. A segunda abaixa o volume, pára para pensar e prepara o ritmo novamente agitado com “Freak Hijiki”. “The Melee” chega ao auge, numa mescla adequada de tangerina com limão.

As músicas mais esquisitas do disco são “The Gala Event” e “Dramastically Different”. Ambas são sombrias. Na primeira, a guitarra é cheia de efeito. MoneyMark lança algumas notas pontuais. “The Gala Event” parece trilha sonora de algum episódio maluco de Perdidos no Espaço com terno Armani de US$ 2.000. A segunda está toda funkeada é como se os Beastie Boys estivessem tocando num barzinho do subúrbio de Nova Délhi. A guitarra está tão precisa que lembra uma cítara.

As melhores músicas do disco são “Off the Grid” e “Rat Cage”, justamente as duas que ganharam versões em vídeos, que foram feitos por MCA. Ambas são carregadas pelo baixo de Adam Yauch, no melhor estilo “Stand Together”, de “Check Your Head”. “Off the Grid” abusa de tão boa. Começa tranqüila, com um solinho limpo de guitarra. Dá até para se pensar num vocal agressivo estilo “Sabotage”. Vozes cairiam como uma luva em “Off the Grid”. “Rat Cage” começa com o baixo mal tocado e “trastejando”, jargão musical para o som metálico que sai das cordas. Parece que MCA não conseguiu tirar corretamente os harmônicos do instrumento. O proposital não funcionou, a impressão de um “lazy bass” sobressai-se na música. Se eles tentaram inovar e fazer um rock sem saber explicar foi nessas duas faixas.

“Cousin of Death” flerta com esquisitice e rock n roll. O baixo bem distorcido dança com o órgão. A guitarra é ardida e está escondida para não tirar as ondas do baixo. Se os ouvidos são exigentes, “The Mix Up” vale somente por essas três músicas.

O disco acaba com “The Kangaroo Rat”, a seqüência de “Cousin of Death”. Tem um começo óbvio, lembra “Shambala”, de “Ill Communication”, mas acaba por ganhar um ritmo mais acelerado. Infelizmente, ela fica perto de deslanchar e pára por aí.
O que se pode concluir é que Mike D conseguiu expandir seu conhecimento quadrado da bateria (talvez por conta da ajuda de Ortiz na percussão). Adrock sabe como ninguém usar o efeito “wah wah”. MCA é o responsável por carregar todas as músicas com o baixo. Mark Nishita poderia ter tentado ousar. Beira a mesmice.

Backstage
O trio nova-iorquino conseguiu extrapolar os limites da música escorando-se pelo seguinte tripé: talento, inovação e marketing. São pioneiros pelos seguintes fatores:

1) Com origem no punk rock, eram brancos a fazer hip hop;
2) Compuseram um disco (Paul’s Boutique) com bases inteiramente sampleadas, algo que hoje seria um projeto inviável pelo custo de direitos autorais;
3) Com Paul’s Boutique não atingiram as mesmas vendas astronômicas do primeiro álbum (Licensed to Ill), mesmo assim resolveram compor um álbum (Check Your Head) meclando faixas de rap, hardcore e instrumentais funkeadas-jazzísticas. Voltaram ao topo.
4) Organizaram cinco edições de um festival de conscientização para situação do Tibet: o Tibetan Freedom Concert. Na quarta edição, os shows ocorreram no mesmo 13 de junho em Amsterdam, Chicago/Wisconsin, Sydney, Tokyo
5) Lançaram em 2006 uma vídeo experimentação de um show em Nova York. O filme “Awesome I fucking shot that”, feito com a participação de 50 câmeras distribuídas pela platéia, recebeu prêmios.
Esses cinco pontos reforçam os quesitos talento e inovação do grupo. E foi graças a esse envolvimento e aos processos de public awareness que o grupo foi ganhando experiência no marketing. Logo depois de lançar o último álbum “To the 5 Boroughs”, anunciaram que retornariam às origens do rock e lançariam novamente um disco inteiramente instrumental, diferente e mais pesado do que já foi feito com “Check Your Head” e “Ill Communication” (1994). Isso instigou a curiosidade de fãs ao redor do mundo.

Em março e abril, os dois meses escolhidos para o trio realizar o media label do novo disco, frase de Mike D que grudou em todos os cantos foi: “É um disco diferente, não consigo descrevê-lo”.

“The Mix Up” “vazou”, numa ação meticulosa do trio, quase um mês antes da data oficial de lançamento 26 de junho. O resultado é um disco recheado pelo instrumentalismo inovador e atrevido dos Beastie Boys. Tem tudo para ser mais um disco aclamado. Mas esqueça de procurar com afinco as diferenças. It’s just another beastie plan!

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