8.21.2007

A Newsweek publicou nesta semana fotografias de Jonathan Torgovnik que retratou mulheres que deram à luz a crianças frutos do estupro durante a guerra civil de Ruanda, que ocorreu há mais de 10 anos.

Em cada foto, a mulher aparece ao lado do filho. Mulher porque nenhuma delas sente-se mãe. Abaixo das fotografias segue uma frase. Elas mostram um horror inimaginável.

Josiane Ruyange - "Tenho 27 anos. O genocídio começou quando eu tinha 15. Eu fui estuprada e como resultado tive um filho. Eu não odeio meu filho. Eu também não o amo. Mas eu acho que me sinto confortável ao lado dele. Eu sei que falhei como mãe por causa da pobreza. Às vezes olho a minha situação e vejo pessoas que mantiveram as suas famílias. Eu lamento não ter morrido no genocídio".

Annasalie Mukabayizera - "Após seis meses eu achei que estava grávida. Foi quando eu queria ter morrido. Eu pensei em me matar. Daí, eu pensei em ter o filho e matá-lo logo depois do nascimento. Mas quando eu dei a luz, vi que meu filho era tão lindo que eu passei a amá-lo imediatamente. Depois de um tempo, descobri que nós dois somos HIV positivos. Não há nada de ruim no mundo que nós não sabemos o que é".

Claudin Mukakalisa - "Vou ser honesta. Nunca amei esta criança. Quando eu lembro o que o pai dela fez comigo, eu penso que a única vingança seria matar essa criança. Eu não fiz isso. Ainda bem que eu não fiz isso. Eu me forcei a amá-la. Mas é impossível amar essa criança".

Aline Uwinbabazi - "Eu dei à luz, mas não amo essa criança. Sempre foi um problema. A filha da minha irmã morreu, mas a minha sobreviveu. Mais tarde descobri que tenho Aids. Minha irmã e mãe também têm Aids. Hoje eu tenho um desafio. Ser mãe quando não quero ser mãe. Eu não amo essa criança. Toda vez que eu olho para ela, eu lembro de cenas do estupro. Eu tento porque eu sei que ela é inocente. Eu tento amá-la, mas não consigo".
Claudine Mukamurenzi - "O mundo nos rejeitou quando estávamos tendo problemas. Eu ficaria feliz se o mundo nos ajudasse a levar justiça para todas as pessoas que nos causaram mal. Todas as vítimas de estupro, como eu, tornaram-se mãe sem estar preparadas para isso. O mundo, ao menos, poderia nos ajudar a cuidar dessas crianças".

Há um único testemunho um pouco positivos:
Verena Uwingabira - "Eu não sei quantos homens me estupraram. Só sei que depois de quatro meses, descobri que estava grávida. Eu fiquei tão mal que tentei me matar duas vezes. Mas uma voz dentro de mim me dizia: 'Olha, você não sabe porque você sobreviveu. Deve ter alguma razão para você ter sobrevivido.' Eu juntei coragem e dei à luz a uma criança que se parece comigo. Essa é a fonte da minha felicidade".

1 comentário:

Leo Antunes disse...

Nossa Pariz, seu "blog" é ainda mais deprimente que o meu.

Digo deprimente no sentido literal, não no sentido "Há! O Pariz é deprimente, vamos zuar ele! Há!"
... apesar do meu "blog" ser deprimente exatamente nesse sentido...

Odeio o termo "blog", não sei porque. Também não sei de onde tirei a idéia de que citá-lo entre aspas reduz de alguma forma esse ódio.